domingo, 1 de janeiro de 2012

Reconstrução.

Eu passava o dia inteiro sozinha com o Rafael, já que o Elias só chegava do trabalho de madrugada ele só tinha a mim e eu a ele para matar a solidão. Como era um menino muito curioso desde cedo, o pegava no colo e o levava até a janela para lhe mostrar de tudo um pouco, de lá  apontava para algo e dizia: Tá vendo filho aquilo ali é um cachorro, aquelas são crianças jogando bola, ali ó é uma menina muito bonita passando pela a rua.
O anoitecer no Jardim dos Reis desde sempre fora muito belo e com as estrelas bem visíveis no céu, acho que isso explica o porquê do Rafael não ter dito como primeira palavra: pai ou mãe, mas sim o fato dele ter notado a bola cintilante que iluminava o mundo e o bairro . Na boca do menino  começara a ser nomeado com um pequeno "Ua" depois de boas risadas evoluiu para a "Bua" Que por fim como manda nossa bom e velho português o único satélite natural do planeta  se transformou na primeira palavra dita pelo meu filho "Lua".

Guarda-chuva amarelo.

Nos últimos minutos do calendário
um menino com guarda-chuva amarelo
olhava ansioso para o mar.
- Meu deus! Como balança
pra lá e pra cá, o navio
que dispara os fogos de artifício,
ele dança num ritmo desengonçado.
A garoa caía de mansinho na praia,
regando a finas gotas de água doce
os castelos de areia derretidos no sal.
O menino estava admirado com tudo,
e entre um suspiro e outro sentia a verdade
te todas as coisas se revelando no pulmão.
Por um segundo ele olha pro chão e vê
os pés enrugados sobre a areia molhada.
E aos gritos do 3... do 2... e do 1...
BOOOMMM!
O céu perdido
na escuridão do mar
se encheu de todas as formas.
E luzes moldadas no pavio da pólvora
BOOOMMM!TATATATATATATA!BOM!
O barco torto metralha o ar,
Esses estraçalham o passado que já passou
e o deixa com cara de peneira.
BOOOMMM!
Lá se vai mais fogo multicolorido
no meio da água esfumaçada da neblina.
E com a porteira aberta,
Uma manada de pessoas
corre louca para as ondas do mar,
porque afinal é ano novo,
essa é a única data de 'renovação universal'.
Elegantemente o menino desarma seu guarda-chuva amarelo
e vai pular as ondinhas conforme a etiqueta
Incrivelmente, acredito pelo calor da festa,
Consegue pensar em sete desejos não calculados.
Mentira.
Ele foi com pelo menos um em mente,
porque deseja muito a sua realização,
o triste da noite nem era a chuva
e sim sua garganta,
que ainda arranjou briga
no meio do ponto de ônibus.